sábado, 21 de março de 2015

SÚPLICA DA NATUREZA

Eu sou a última folhagem. Depois não haverá mais nada. Mas faça do que restou de mim sua última roupagem. Eu sou o último animal. Este rosnar espremido poderá ser sua última canção na hora da despedida. Eu sou o último céu. Depois de mim, nada haverá sobre todos como véu. Nem haverá nenhum mar para expandir e beijar a borda do meu chapéu. Nenhum sol outra vez brilhará. Pode esconder seu guarda sol. Eu sou a última chuva e nunca mais outra cairá. Também não haverá ninguém, ninguém para me esperar. Eu sou o último pássaro e não haverá outro a voar. Nem guarde este pleno voo, pois não haverá como guardar. Eu sou a última árvore. Não terá outra no lugar. Não faça nada de mim, não terá tempo de usar. Eu sou o último rio. Não haverá outro a margear. Não beba de minha água. Minha água pode matar. Eu estou no fim. Você está no fim. Estávamos juntos desde o começo.