sábado, 17 de setembro de 2011

NATURA NATA


Perguntas pelo verde?
Lorca já disse: verde
que te quero ver-te.
Perguntas pelas árvores?
Eu te direi que só vi
pés de alface.
Alface que te quero fácil.
Poesia? Quantos são os
que as fazem!
Faça algumas que ergam
colunas e transformem
o mundo!
Jacó e Drumond tropeçaram
com uma pedra em
seus caminhos.
Há sempre uma pedra
no meio do caminho
do poeta!
Quem é este que está
ao teu lado?
Isto sim! É uma pergunta
que vale a pena
ser feita!
A uma pergunta desta,
vale a pena perguntar:
quem olha para ele
com olhar de festa?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

EU, ELA E A JANELA


Não posso mais dizer
que é uma janela.
Creio que o brilho
cristalino de seu vidro,
seja o fogo devorador
de seus olhos inquietos,
cujas labaredas atravessam
minha alma e consomem
meus dias como um sol
abrasador sobre um
deserto...
porém, quando atravessa
a janela, o seu olhar
se abre como um oásis
onde me deito e durmo,
onde construo esperanças,
como um menino brinca
com pingos molhados de
areia à beira mar e
constrói castelos e fortificações.
O seu modo de me ver
atravessa os cais noturnos
das praias românticas e
une os corações dos amantes
que se misturam como as
nuvens se transpassam no
céu, ou como as pétalas
ornamentam as flores,
sem que ninguém as ensinasse
a tecer ou a florir.
Os arcos de suas sobrancelhas
se abrem como arco-íris
no fim da tarde,
e são túneis secretos, porém
permanecem no silêncio das
horas, enquanto meu olhar
discreto tenta penetrar em
seus segredos e desvendar
seus sonhos prediletos.
Que força estranha é esta
que nos mistura no brilho
da janela?
Que posso fazer ante sua
formosura, ante seu corpo
esguio, seu andar tão terno?
Poderia dizer-lhe que ela é
mais bela que todas as belas?
Poderia dizer que por causa
dela, eu amo todas as janelas
deste mundo?
Ou poderia ir mais fundo e dizer
que há muito mais coisa entre eu,
ela e a janela.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

POESIA DO ABSURDO SOCIAL


O ócio é
frágil,
o negócio
é osso.
O troço
seu moço?
o hábil
é o poço!
O poço é
o mundo,
o mundo
o seu fundo.
O fundo é
antigo,
o inimigo
não é novo.
O óbvio
é o ópio
do povo.

A ARTE DE ESCREVER


O escritor é um coletor/caçador,
pois na sua arte, pratica a segunda
parte do paleolítico,
onde se torna neo, neolítico,
onde ornamenta as aparas, acerta os
desacertos, colhe o que planta,
rega e aduba o que cuida,
não perde a rota do sol,
nem se descuida da lua.
Escrevendo ele ergue sua
primeira comunidade,
organiza o início de sua divisão
de trabalho,
pois no seu ofício separa o conto
da crônica, esta da historiciedade,
e nunca mede o sacrifício de
encantar de beleza e de ternura,
colocando ornamentos sobre a mesa,
emoldurando a literatura, com
o texto, o contexto, da linguagem
mais simples e pura, da linhagem
que não se desgasta, mas depura,
da vestimenta nupcial da poesia.