sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O ENCONTRO

Não posso dizer que havia uma pedra no meio do meu caminho; porque não havia somente uma pedra. Eu posso dizer que encontrei meu caminho no meio de uma pedra. Agora eu posso dizer que uma pedra pode nos levar mais longe que o próprio caminho.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

EU SOU

Não venham com esta conversa burguesa e castradora. Não me digam que sou nada. Sou sim alguma coisa. Por que vocês não querem enfrentar a situação? Quando me dizem que não sou nada, no íntimo vocês querem guardar para si o resto. Vocês pensam que são donos deste jardim? Ora, não sejam tolos. O jardim não existe. As flores? Podem escrever seus poemas para elas. Elas não existem! No pomar do mundo as frutas já nascem decompostas. Foi o tempo que escrevi para elas. As palavras também não existem. Isto sim é que é encarar o nada, sem discurso masoquista. Não é qualquer um que tem a coragem de agarrar o touro firme com as mãos e olhar no fundo dos seus olhos, com um olhar de herói: Ora, nem eu nem vocês não somos nada! Mas somos alguma coisa sim. Tudo o que vocês tem ao seu redor, não existe. Ora, se eles tem um tempo determinado, não existem! Tudo não passa de maya, de uma grande ilusão. Estamos mergulhados no mar da ilusão. Vocês só passarão a existir, quando acordar a sua outra parte. Então verão, que o verdadeiro espetáculo esá debaixo do palco, das luzes e da cena.
O escritor costumava ficar na varanda do seu casarão contemplando o sorriso de cada estrela e a sinuosa lua enlouquecida para dar um banho de luz no primeiro casal romântico que atravessasse a ladeira. Há ainda casais deste tipo? Sobraram alguns em alguma cristaleira? Estava ali naquele canto bem escuro, onde nenhuma criatura pudesse percebê-lo. Meditava em silêncio. Seu pensamento tomou uma velocidade acima da luz. Quando olhou para trás viu a explosão do big bang lançando corpúsculos no espaço. Quem disse que tudo começou aí? Se explodiu havia matéria. Se mudou de lugar havia espaço. Se houve explosão havia força. Presume-se um tempo antes da explosão e outro após, havia tempo. Logo não foi início de nada. Um outro estágio apenas de matéria, força, tempo e espaço. Diminuiu a velocidade de seu pensamento, vendo-se em pleno século dezoito. Os padres começaram a subir a grande escada em forma de "esse", apressados para mais uma reunião, conforme as segundas, impreterivelmente. Todos estavam na pequena sala com seus lampiões acesos, cujas labaredas lambiam o teto e no seu vai e vem no ar, retorciam as figuras dos iluministas. A reunião da Congregação do Oratório começava por volta das oito horas da noite. Sobre uma estante reluziam expostos os livros principais de suas ideias: "Cartas Persas", "O Espírito das Leis", de Montesquieu; "Discurso sobre a origem e o fundamento das desigualdades entre os homens", "Contrato Social", de Rousseau; "Cartas Inglesas", de Voltaire; "Enciclopedia", de D'Alembert e Diderot, mais alguns livros de Spinoza, Locke e obras completas de Isaac Newton. Os padres oratorianos perceberam a entrada do estranho e exclamaram: "Chegou o famoso ator, que tanto esperávamos. Ele nos vai ajudar a expandir nossas ideias. Vamos fazer com ele o mesmo que Francis Bacon fez com Shakespeare!" Um outro mais gorduchinho completou: "Isto mesmo, uma grande saída baconiana. Colocar sobre a responsabilidade de um ator popular toda uma obra que não poderia ser assumida diretamente! Bom ator, ficaria com a fama de escritor, sem ter escrito uma linha somente" Ator e escritor, sendo que suas obras eram de outro pensador. Ele as assumiria como sua, pois o mais importante era o objetivo que havia por trás delas. Igualdade, liberdade, fraternidade, divisão de rendas, contrato social, tolerância religiosa, democracia, divisão dos tres poderes! Que diferença havia entre o sistema monárquico e as democracias modernas? O atacado continuava com as mesmas injustiças do varejo! O que realmente manda é o dinheiro, o poder, a influência no sistema. Aplicações que voam em toques de midas no teclado, com uma sinfonia faminta. A escravidão continua instituida, porém mais disfarçada do que nunca. Há um sorriso fulminante por trás de um deboche social. Vários monarcas assentados garbosamente por trás de ideias que no passado eram puras e divinas. Agora, com os poderes nas mãos esbanjam riquezas e direitos, enquanto os povos vivem como robôs sem condições mínimas de sobrevivência. O discurso burguês embriaga as massas exploradas. Cacos de homens andando pelas ruas apocalípticas das cidades do mundo. A razão tornou-se uma divindade implacante. A natureza separou-se do homem, como uma coisa. Os cirurgiões monetários retalham até mesmo a profundeza da terra, para arrancar-lhe a alma pelas entranhas. As fábricas de armas se complementam com as fábricas de guerra. Os meios de informação em conjunto com uma grande soma da mídia se ocupam de marginalizar e alienar os conglomerados humanos. Crianças que disputam pedaços de lixos, nos grandes lixões com os urubús, ratos e animais de rapina. A Congregação do Oratório faz uma oração final após a reunião e cada vulto silencioso desaparece ladeira abaixo. O escritor atravessa a mesma sala e dirige-se para o seu camarim. Agora, diante do espelho, maquia-se. Um som de buzina o avisa lá de fora, que ele já está um pouco atrasado para o espetáculo.

sábado, 11 de agosto de 2012

MULTIVERSO

Uma pedra ao longe? Um ponto! Uma pessoa ao longe? Um ponto! Uma estrela ao longe? Um ponto! Pronto: está resolvido o enigma do universo - um ponto! Antes estar acordado do que tonto!