CAMINHO
Descobrindo no inverso,
o seu próprio caminho.
Sem se preocupar com
o diverso, onde esteja
o fim.
Este é o proceder que
não encurta,
não destrança o tricô
do encanto,
reorganiza o caos, faz
da despedida um encontro,
sem ser bobo pela vida,
sem ser tonto,
porque sabe como o rio,
da chuva vinda pela montanha
abaixo,
escrevendo poemas,
falando em outra linguagem,
aquela em que as fadas
dançam, sublimam, embalam,
poemas vêem, perscultam, passeiam,
despranteiam, sondam a energia
primordial, aquela das raízes,
pululam sobre as metáforas,
poemas serão chamas, faróis,
iluminarão com seu luzir
de cores e matizes,
onde queira ancorar em
regatos tranquilos,
as ondas dos mares
tempestuosos,
para encontrar sentido
nos símbolos e procurar
pela melhor resposta,
obedecendo uma rota
circular, tão fácil de
ser encontrada.
Uma questão de saber
fechar o que resta
de espaço,
na geometria de um
sinal de interrogação.
PASTOREIO
Ser filósofo não é desbotar palavras.
Somente resquardá-las.
Mas cuidá-las na fonte primitiva
de onde vieram para tomar
banho de sol.
Ter a calma do guardador de
rebanho deste verbo solar.
Esparzir na natureza a frase
ideal, onde não se espera
de onde veio, nem se sabe
como.
O filósofo apenas encaminha,
apacenta, equaciona a mensagem,
enquanto tange o rebanho da linguagem,
sem manuseá-la ao cansaço,
guiando-a ao aprisco.
- Mas não é que nisto,
o filósofo corre um risco?
Sim, mas ter o cuidado permanente,
de enquanto tocar as cordas,
ser apenas seu intermediário.
A VITRINE
-Quem é mais urso,
o polar ou o de pelúcia?
Atrás daquela vitrine,
existe muita astúcia.
O verdadeiro urso,
hiberna outro urso.
INSPIRAÇÃO
Não faço poesia concreta,
faço poesia.
Não uso a palavra pateta.
Não sou poeta de
palavras cruzadas.
Há quem se diz poeta
e por mais que encha
a forma,
ela se deforma, se
esvazia.
Afastem de mim
este cálice.
Que envenena a palavra
em linha reta,
atacada de hipocondria.
Eu sou filho único
da inspiração.
Quando escrevo, ando
pela via do coração.
INSPIRAÇÃO II
Dêem-me a palavra
passarinho, aquela que
faz seu ninho com ar
de mulher rendeira.
Aquela que bate
por dentro, como
as pedras nos lagos,
fazem ondas por
todos os lados.
INSPIRAÇÃO III
Olho para o céu!
Abro os braços
para a natureza.
Começo a pensar:
quanta beleza!
Vi uma samambaia
silvestre, tão meiga
e frágil, entre dois
meio-fios!
A natureza resiste!
O meu desafio é
vestir o avesso do
avesso,
caminhando nas
águas do mesmo rio.
CONFISSÃO
Sou poeta,
minha obra prima
é erguida com
as migalhas que
caem da mesa
da vida.
Imaginem se fosse
anjo, arcanjo
ou santo?
DESCOBERTA
Mordi a isca do Eterno.
No oceano de suas vibrações,
descobri no âmago do belo,
poemas, cantos, canções.
-Você sabe quem é
que não caiu no anzol?
Aquele que não percebe a festa!
Que só vai à praia para bronzear,
ficar de bunda pra cima
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